Prof. Gláucio Moro
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A partir de 1917, os russos estudaram os filmes e construíram o pensamento teórico da montagem soviética. Deram uma outra característica tanto no cinema como na TV com sua teoria . Mas o filme já existia, já era produzido, e muitos deles já possuíam montagens, mesmo que feitas inconscientemente. A prova disso foi o filme de Griffith, Intolerance, que Kuleshov e seus alunos dissecaram em 1919 para conceituar e teorizar. Nesta época, a criação de enquadramentos, planos e ângulos de câmera também já estava em produção. Mas isso não significa que esses planos sempre existiram.
Voltando um pouco mais no tempo, em 1895, dois irmãos franceses que produziam filmes fotográficos, August e Louis Lumière, desenvolveram um aparelho híbrido vindo dos conhecimentos técnicos de película e da projeção, chamado cinematógrafo, um dispositivo que registrava fotogramas sequenciais, criando uma ilusão de movimento que era projetada sobre uma tela. Assim, eles começaram a realizar exibições de filmes de curta duração em Paris, para a apreciação de seu invento. Com a popularização do dispositivo, aparelhos semelhantes e pequenas exibições fílmicas começaram a surgir também em vários outros países, como Estados Unidos e Inglaterra.
Segundo Machado (2013), na primeira década do surgimento do vídeo, essas películas se resumiam em atualidades reconstituídas, gags de comicidade popular, contos de fadas, pornografias e prestidigitação . Os gêneros de vídeos incluíam filmes de paisagens, notícias, incidentes e geralmente vinham com uma linguagem representativa advinda das formas artísticas eruditas como o teatro, a literatura e a ópera.
Sendo assim, podemos imaginar que no início do cinema, linguagens cênicas eram emprestadas para a concepção e criação das obras, pois os procedimentos técnicos próprios para a linguagem cinematográfica ainda não haviam surgido, estavam em desenvolvimento. Não existiam estilos de narrativas, tampouco enquadramentos, planos e ângulos de câmera; o teatro e a ópera, exemplos iniciais inspirados para essas produções, possuem conceitualmente apenas uma única “tomada de câmera”, que é o palco onde o espectador assiste a peça. Por um preceito de faculdade imitativa, o vídeo dessa época também.
Podemos notar que a sequência em si não tem cortes nem montagem, e a história — mais um gag do que propriamente uma história — nem ao menos trabalha o enredo extraquadro. Ou seja, a perseguição do homem não sai para fora do quadro, e ele se posiciona para o centro da tela para aplicar as palmadas no garoto, e tudo em planos gerais.
Um dos primeiros faroestes da história, o filme The great train robbery, de Edwin Porter, de 1903, conta a história de bandidos que assaltam um trem e são perseguidos pelo pelotão do xerife. Mas Porter, que filmou tudo em “planos gerais”, notou que os mocinhos e os bandidos do filme praticamente não podiam ser identificados, principalmente na cena de perseguição pelas pradarias a cavalo. Isso causou uma grande confusão para o espectador. Para resolver esse problema, ele filmou um trecho final com um dos bandidos em um enquadramento bem próximo, um “primeiro plano”
Porter não desistiu da ideia do primeiro plano, e no seu filme Life of an american fireman, de 1903, que contava o dia de bombeiros indo ao resgate de uma mulher e uma criança em um prédio em chamas, ele introduz um primeiro plano de uma mão — mais parecido como conhecemos atualmente, ou seja no meio do filme — ligando o alarme de incêndio.
David Griffith foi quem primeiro notou as relações de distância que poderia haver entre os planos. Estudando melhor essas noções, produziu uma série de testes que iam desde o já conhecido plano geral até os Close-Ups. Ele notou que dependendo da distância que dava para cada plano que gravava, criava uma relação “emocional” nas cenas.
Segundo Mast (2002), a ideia fora totalmente rejeitada pela Motion Picture Patents Company — produtora e distribuidora cinematográfica de Thomas Edison, que detinha o monopólio de filmes nos Estados Unidos a partir de 1908. Por mais bizarra que possa parecer hoje, a afirmação foi de que o público não pagaria o preço inteiro para ver a metade de um ator.
Griffith acreditava que a semelhança com o teatro que o cinema se baseava era equivocada em diversos aspectos, pois os ritmos de uma tomada de câmera poderiam possuir uma dinâmica maior em termos de velocidade, emoção, poder narrativo e percepção em uma película cinematográfica. Assim desenvolveu diversos tipos de enquadramentos e posições para criar seus filmes, um legado que o tornou um dos pais da linguagem cinematográfica.Desta forma as linguagens e os planos cresceram em número e formas de exposição, criando novos tipos vindos das aplicações, não só de Griffith, mas também de todos aqueles que se dedicaram à aquisição de resultados parciais que se popularizaram e aceleraram o processo da construção de uma linguagem cinematográfica.
Cada plano não necessariamente é estático dentro de um vídeo. Nos filmes antigos e nos programas de TV não havia muitos meios de movimentação de câmera; normalmente os enquadramentos eram reproduzidos de maneira fixa, com uma reprodução sequencial de imagens.
Os movimentos de câmera são também responsáveis pelas sensações provocadas pela imagem. O plano em movimento então é um elemento que possui um dinamismo maior, que vai da movimentação entre os atores, cenários, objetos e é constituído muitas vezes em um processo ativo, que pode partir de um plano geral para um primeiríssimo plano sem cortes, por exemplo. "...o plano define, literalmente circunscreve, elementos dinâmicos, ou seja, em movimento, e, através de seus valores de composição (equilíbrio entre cheios e vazios, dominância de linhas verticais, horizontais ou oblíquas etc.), produz ou acentua valores dinâmicos (COSTA, 1985, p. 184)."
Também chamada de PAN, é o movimento de giro em seu próprio eixo, que pode ser tanto vertical como horizontal. Se a câmera der um giro completo é chamado de panorâmica 360. Geralmente produzida sobre um tripé.
Segundo Xavier (2005), “a câmera é dita subjetiva quando ela assume o ponto de vista de um dos personagens, observando os acontecimentos de sua posição, e, digamos, com os seus olhos”. Falar dos usos da câmera Subjetiva exige um pouco mais de explicação, já que ela vai mais além na relação de percepção e contexto emocional e narrativo. Seu uso faz com que a narrativa ganhe, além de uma quebra do processo que o público tem de apenas “olhar os acontecimentos de fora”, um adentramento mais intenso na percepção do personagem. Por meio dessa câmera, podemos ser parte da ação, do ponto de vista pessoal.
É o movimento de câmera realizado sobre carrinhos, que geralmente estão sobre trilhos, pneus ou sistemas equivalentes. Permite executar movimentos diversos, como para frente ou para trás, para cima ou para baixo. Geralmente é utilizado para acompanhar personagens lateralmente. Basicamente tudo o que “acompanha” uma cena pode ser chamado de travelling.
O zoom é basicamente o travelling ótico, ou seja, é o movimento de câmera simulado através de um aumento ou diminuição da lente. Se a câmera representa sempre o olho do telespectador, quando se faz um zoom in não significa que o objeto está se aproximando do telespectador, mas como se estivéssemos trazendo o próprio telespectador para perto do objeto, para observá-lo melhor, em seus detalhes, seus traços, sua emoção. Ao se fazer um zoom out, a sensação provocada é ao contrário: estaríamos distanciando o telespectador do objeto, normalmente para contemplá-lo, para situá-lo, para entendê-lo sem seu contexto.
Como o nome já diz, é o um plano muito longo filmado sem interrupções nem cortes. O Plano Sequência não necessariamente precisa ser todo em movimento. O Plano Sequência pode ser em movimento também, com a câmera seguindo os fatos, todos sem cortes.